A América Latina é como um curso de sociologia num continente. Acontece de tudo por lá. Ditaduras, democracias, golpes de estado, falências de bancos centrais etc. Mas não houve algo tão nefasto e tratado tão ao de leve pela imprensa europeia como o bolivarismo.
O Bolivarismo é uma ideologia que une o socialismo aos ideais republicanos de Simón Bolívar, militar e político venezuelano que se destacou por ser um dos rostos da emancipação frente ao Império Espanhol.
O ex-presidente Hugo Chavéz, Rafael Corrêa ou Evo Morales são algumas das figuras que defendem o denominado socialismo do século XXI.
Entre toda a propaganda, a Venezuela tomou um caminho diferente do de Cuba. É um país socialista com espírito empreendedor. "Passamos de fazer business com Coca Cola para fazer com sumo de goiaba." dizia-me um amigo venezuelano, referindo-se á petição do presidente Chavéz.
Apesar da produção petrolífera ter aumentado quatro vezes, o rendimento per capita é baixíssimo. O sonho bolivarista nasceu como uma promessa igualitária e social e acabou por fracassar. É o que acontece quando se entrega a liberdade a troco de segurança e no fim nenhuma das duas. Só um líder autoritário.
O chavismo contava com o apoio da maior parte da população. A sua morte foi recebida num misto de tristeza, medo, e esperança. Era um líder carismático, mas a situação económica e o isolamento internacional levaram o país a levar um rumo bastante diferente da Colômbia de Uribe, que passou de ser um dos países mais perigosos do mundo a um centro de negócios internacional. O pilar básico da Colômbia foi a abertura aos mercados e desprender-se do comércio com os vizinhos, entre eles a Venezuela.
A hiperinflação já assolou a Venezuela que chegou a ver os preços dispararem 40% por ano, deixando os mercados desabastecidos. O bolívar chegou a cotizar a 26 face ao dólar no mercado negro, enquanto oficialmente estava a 6 para 1 dólar.
Em Fevereiro do ano passado, Chavéz desvalorizava a moeda nacional pela sétima vez. Isto levou que o PIB per capita descesse de 13000$ em 2007 para 9000$ em 2013. Uma queda de 22% do poder de compra. Um dos empobrecimentos mais rápidos alguma vez visto em tempos de paz.
Durante o mandato de Maduro, que abriu a economia, antes de entrar numa espiral de dívida, desvalorização e inflação que levou aos distúrbios que continuam até á data. Isto apesar do preço do barril de petróleo valer dez vezes mais que durante o mandato de Chavéz.
É surpreendente que um país que metade das receitas são geradas através da venda de petróleo, conseguisse ter um défice de 9%. E o pior é que nas ruas não se vê o desenvolvimento que seria de esperar.
De 2003 a 2013, a inflação subiu 588%. O preço que se pagava por um jantar em 2003 dá para comprar um carro em 2014. A Venezuela precisa da sua riqueza e no entanto oferece 100000 barris por dia a Cuba, que só consome 40000. O resto exporta. É o pagamento por serviços médicos e por aconselhamento político.
Outro dos casos graves do regime são as expropriações. Num período de 6 anos o governo levou a cabo 1826 expropriações e só um 5% foi indemnizado.
Mas os defensores do regime preocupam-se com a pobreza e curiosamente o índice Ethos que mede a pobreza situa a Venezuela na antepenúltima posição na América Latina, seguido do Equador e da Bolívia, outros dos países governados pelo socialismo do século XXI.