Planeando o consumo da cerveja
Imagine o que seria necessário, em termos de informações, para colocar em prática um sistema socialista de distribuição de cerveja em Portugal. Algumas pessoas, como os não apreciadores, não a consomem. Há outros lares, porém, que consomem grandes quantidades: aqueles que gostam de beber uma cerveja geladinha a ver o futebol ou até aqueles que a usam com frequência para cozinhar etc. Outros podem variar no seu consumo: no Inverno, a família pode dar preferência ao vinho, mas, no Verão, pode consumir quantidades maiores de cerveja.
Além do cálculo das quantidades, existem outras questões a serem respondidas: preta, lager, ale, sem álcool etc.? Prefere a cerveja artesanal, mais cara; ou a mais barata, produzida em fábricas? Caso prefira a primeira, quanto estaria disposto a pagar por ela? Preferiria consumir cerveja nacional ou estrangeira? Tem alguma preferência por marca?
Existem 6 milhões de lares em Portugal. Se imaginarmos um orçamento semanal do consumo de cerveja para cada um desses lares, teremos 42 milhões de planeamentos semanais a serem feitos. Acrescentando uma lista altamente restritiva de variantes — quantidade de zero a vinte litros por semana, quatro níveis de teor de álcool, artesanal ou industrial, preta ou branca, além de três tipos de sabores —, terminamos com biliões de opções de planeamento semanal.
São essas as escolhas para o nosso comité de planeadores centrais — e vamos considerar que esses
estejam entre os melhores e mais inteligentes planeadores que o mundo tem para oferecer, todos com o personalidade de um anjo, completamente incorruptíveis pelas questões quotidianas envolvendo a política ou a influência dos vários lobbies rivais da indústria da cerveja (ou seja, consideremos que não sejam seres humanos como aqueles que conhecemos).