27 de maio de 2015

O Socialismo e a Cerveja


Planeando o consumo da cerveja

Imagine o que seria necessário, em termos de informações, para colocar em prática um sistema socialista de distribuição de cerveja em Portugal. Algumas pessoas, como os não apreciadores, não a consomem. Há outros lares, porém, que consomem grandes quantidades: aqueles que gostam de beber uma cerveja geladinha a ver o futebol ou até aqueles que a usam com frequência para cozinhar etc. Outros podem variar no seu consumo: no Inverno, a família pode dar preferência ao vinho, mas, no Verão, pode consumir quantidades maiores de cerveja.
Além do cálculo das quantidades, existem outras questões a serem respondidas: preta, lager, ale, sem álcool etc.? Prefere a cerveja artesanal, mais cara; ou a mais barata, produzida em fábricas? Caso prefira a primeira, quanto estaria disposto a pagar por ela? Preferiria consumir cerveja nacional ou estrangeira? Tem alguma preferência por marca?

Existem 6 milhões de lares em Portugal. Se imaginarmos um orçamento semanal do consumo de cerveja para cada um desses lares, teremos 42 milhões de planeamentos semanais a serem feitos. Acrescentando uma lista altamente restritiva de variantes — quantidade de zero a vinte litros por semana, quatro níveis de teor de álcool, artesanal ou industrial, preta ou branca, além de três tipos de sabores —, terminamos com biliões de opções de planeamento semanal.

São essas as escolhas para o nosso comité de planeadores centrais — e vamos considerar que esses estejam entre os melhores e mais inteligentes planeadores que o mundo tem para oferecer, todos com o personalidade de um anjo, completamente incorruptíveis pelas questões quotidianas envolvendo a política ou a influência dos vários lobbies rivais da indústria da cerveja (ou seja, consideremos que não sejam seres humanos como aqueles que conhecemos).

É muito para calcular. Os nossos planeadores precisariam de supercomputadores para poder calcular as necessidades de cada lar e ainda assim não conseguiriam aceder a toda a informação. No entanto, mesmo se os planeadores tivessem um modo milagroso de considerar todas as opções e levar em conta todo tipo de informação, como poderiam obter tal informação? Poderiam enviar questionários para cada família a perguntar sobre as preferências quanto ao consumo de cerveja para o ano seguinte. Mas será que receberiam respostas precisas? Provavelmente não. Muitas vezes as pessoas mentem em pesquisas de opinião, fornecendo informações que transmitem o que consideram qualidades desejáveis sobre si mesmas. Por exemplo, as editoras de jornais frequentemente pedem a opinião dos americanos sobre o que desejam de um jornal. Geralmente, as respostas são:
  • Mais notícias internacionais
  • Mais reportagens de investigação
  • Mais notícias culturais  
No entanto, as secções mais lidas da maioria dos jornais são:
  • Os obituários
  • Os resultados desportivos
  • As cartas ao editor
Por outras palavras. Dizemos que queremos assistir aos programas culturais da RTP2, quando na realidade vemos a Casa dos Segredos.

Outro elemento que complica os calculos, é o facto dos consumidores não saberem quais serão as suas necessidades futuras. Caso faça o planeamento do consumo de cerveja da sua família em Janeiro, talvez encontre dificuldades para fazer o planeamento adequado para Agosto — pois não sabe se haverá algum evento na sua casa nesse mês. Você não sabe quantos amigos aparecerão para a festa de aniversário da sua esposa em Junho. Você pode não saber se vai receber muitas visitas em casa…

Distribuindo a cerveja 

Embora seja muito difícil fazer planos sobre as reais preferências do consumidor, o maior problema seria a quantidade de capital necessária para satisfazer tais necessidades. Vamos imaginar que os planeadores tenham calculado que 10% dos consumidores prefiram cerveja artesanal à industrial.  Tendo calculado que um décimo da produção de cerveja deve ser artesanal, o Estado constrói uma fábrica de cerveja artesanal para cada nove de cerveja industrial.

Fábricas de cerveja representam operações grandes e complicadas. Estradas devem ser construídas para servi-las, além da necessidade de frotas de transporte, muita maquinaria e ferramentas para mantê-la, alojamentos para os trabalhadores etc. É óbvio que numa economia de planeamento central, não é possível comprar tudo isso no mercado livre; é preciso planear e construir fábricas, minas e siderúrgicas, plantações de borracha, poços de petróleo e refinarias. Tudo isso se junta à sobrecarga de informação que torna impossível planear racionalmente uma economia quando faltam os dados transmitidos por meio de preços.

Inevitavelmente, os planeadores centrais cometerão erros, pois não irão fazer cálculos, mas sim suposições - na melhor das hipóteses. Digamos que a procura por cerveja artesanal acaba por ser maior que 10% - suponhamos que seja 30%. Como podem os planeadores atender às preferências dos cidadãos em relação ao consumo de cerveja  Já construíram fábricas, sistemas de transporte, apartamentos e uma vasta infraestrutura para abastecer os estimados 10% de preferência por cerveja artesanal. As opções não são das melhores: podem tentar uma adaptação das velhas fábricas de cerveja industrial de modo a torná-las artesanais ou construir novas fábricas artesanais e deixar que a capacidade excedente das fábricas industriais caia em desuso, constituindo um enorme desperdício de recursos e esforços.

O mais provável é que os planeadores centrais se recusem a atender às preferências dos cidadãos. Passarão a condenar a sua opção por cerveja artesanal como uma extravagância burguesa. Nas economias socialistas mais robustas, os planeadores informam à população sobre suas preferências, e não o contrário.

De qualquer forma, fique certo de duas coisas:
  • As reais preferências dos consumidores não serão saciadas.
  • Os recursos serão distribuídos de maneira ineficiente.

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