1 de julho de 2008

Terra - Mariza


Mariza define o seu novo álbum, «Terra», que saiu ontem, e foi apresntado em Lisboa, como «orgânico» e «acústico» com um «ritmo contagiante».
Em declarações à Lusa, a intérprete afirmou que neste disco «reinventa» a sua sonoridade: «Não é o meu disco mais fadista mas não estou a fugir às raízes. É como se eu tivesse um pé aqui na minha terra [Lisboa] e vou dando a volta ao mundo e acabe por chegar á minha terra».
«Sete anos em que andei em sucessivos concertos pelo mundo inteiro e absorvi coisas, músicas. Esta é a minha verdade agora, a forma como vejo neste momento aquilo que nos últimos sete anos me aconteceu», explicou.
«As raízes estão lá, não descuidei isso, estão lá os poetas, a língua portuguesa, a minha forma de cantar, a guitarra portuguesa, a viola de fado do Diogo Clemente, as proporções são portuguesas», acrescentou.
«Beijo de saudade», a morna de B. Leza que inclui no CD, canta-a em português, cabendo o crioulo a Tito Paris que a interpreta consigo.
Apesar de saber crioulo, Mariza preferiu cantar em português: «É o toque de fado, da minha terra», justifica a artista.
Um «encontro de primos», assim define a ligação entre o fado e a morna.
Referindo-se ao título do álbum, Mariza afirmou à Lusa que «foi escolhido no sentido em que Miguel Torga escreveu, 'acabo sempre por vir dormir aqui', e a minha 'Terra' é esta, os meus pés estão na minha terra», argumentou a artista.
Quanto ao produtor do álbum, o espanhol Javier Limón, Mariza definiu-o como «um encontro de amigos, interessante e muito enriquecedor pois ele é muito sensível às músicas do mundo, além de flamenco foi produtor de Alicia Keys e dos Fugees».
Dos 30 temas inicialmente selecionados, Mariza, e Limón, acabaram por escolher 14, que constituem o álbum.
Além de Tito Paris, o album conta com as participações de Concha Buika, Chucho Valdes, Dominic Miller, Ivan Lins, Horácio 'El Negro' Hernández, Ivan 'Melon' Lewis, do próprio Javier Limón, e ainda Piraña, Dany Noel e Bernardo Couto na guitarra portuguesa.
Entre os 14 temas encontram-se autores já habituais nos álbuns de Mariza: Florbela Espanca, Tiago Machado, Mário Pacheco, Paulo de Carvalho, Paulo Abreu Lima ou Rui Veloso.
«Já me deixou», da dupla Max/Artur Ribeiro, de quem Mariza já gravara «Vielas de Alfama», foi o primeiro tema escolhido e é o que abre o CD.
De Paulo Carvalho canta «Minh´alma», que, segundo afirmou à Lusa, «é de certa forma um tema biográfico».
«Tem a ver comigo, que ando sempre à procura de mim própria, para onde vou, o que faço aqui», explicou.
«Rosa branca» (José de Jesus Guimarães/Resende Dias) foi um tema que de certa forma foi uma «oferta».
A história, contou-a Mariza: «Certa vez fui a um restaurante no Poço do Bispo e soube que uma senhora me queria cumprimentar. Falei com a senhora que me ouvia desde pequenina, ainda na casa dos meus pais. Depois ela foi cantar e dedicou-me o tema 'Rosa branca'».
«Passados dias o tema não me saía da cabeça, e comecei por o cantar um pouco na brincadeira, e um dia o Limón ouviu-o e achou que o devia gravar».
A sua história, ainda menina, na casa dos pais onde acontecia fado, e ela escutava atrás da cortina, antes de se aventurar a cantar, é contada no tema «Tasco da Mouraria» (Paulo Abreu Lima/ Rui Veloso).
O triângulo da lusofonia - África/Brasil/Portugal - é completado por si, Tito Paris e Ivan Lins, que assina o tema «As guitarras», em que toca piano.
Javier Limón escreveu para si «Pequenas verdades», que interpreta com Concha Buika.«Alma do vento» é uma música do guitarrista de Sting, Dominic Miller, que aliás participa em três temas do álbum.
«Eu pedi ao Diogo Clemente que me escrevesse algo relacionado com o vento, pois aquela música soava-me a vento», explicou a intérprete.
Uma das suas primeiras escolhas foi «Alfama» (José Carlos Ary dos Santos/Alan Oulman), uma criação de Amália Rodrigues.
De Florbela Espanca, poetisa que a acompanha desde o primeiro álbum, escolheu «Vozes do mar» que Diogo Clemente musicou.
Para a artista, «este é um poema sem a habitual carga dramática da poetisa».
Dois outros poetas escolhidos foram Pedro Homem de Melo («Fronteira», que Mário Pacheco musicou) e David Mourão-Ferreira («Recurso»).
O poema «Recurso» viu-o pela primeira vez manuscrito entre material cedido para consulta pela gestora do Museu do Fado, Sara Pereira, quando naquele espaço se realizou uma exposição dedicada ao poeta.
«Gostei tanto que telefonei ao Tiago Machado e pedi-lhe que o musicasse. Resultou como o mais fado, fado, que canto apenas à guitarra, viola e viola-baixo, pois não precisa mais nada», disse.
Machado acompanha-a desde o primeiro álbum é o responsável por temas como «Ó gente da minha terra» (de Amália Rodrigues), «Os anéis do meu cabelo» (de António Botto), ou «Caravelas» (de Florbela Espanca).
O álbum foi realizado em sete meses, o tempo considerado por Mariza «necessário» para fazer «todo o trabalho de pesquisa de poemas e conversas com Limón e os autores» que são já seus amigos.
Para Mariza «os temas escritos pelo Rui Veloso, Paulo de Carvalho, Fernando Tordo ou o Paulo Abreu Lima, ganham mais» porque a conhecem e sabem a sua forma de cantar.
«Terra» que abre um novo ciclo da artista, detentora já de um BBC World Music Award, surge com uma nova equipa de músicos.
«Eu necessitava de mudança, tinham passado sete anos, estava a fechar um ciclo, tinha de abrir outro e precisava de uma energia nova», explicou.
Com Mariza estão agora os músicos Ângelo Freire (guitarra portuguesa), Diogo Clemente (viola), Marino de Freitas (viola-baixo), João Pedro Ruela e Vicki (percussões).
Na próxima segunda-feira, no concerto de apresentação do álbum, cuja receita reverterá para a UNICEF, além de Mariza, sobem ao palco da sala da Fundação Caixa, em Lisboa, Concha Buika, Tito Paris e Javier Limón.
Embaixadora da UNICEF, Mariza afirmou à Lusa que «é sempre importante poder contribuir para causas solidárias».
«Sinto isso quase como um dever, mas que o faço com gosto, pois todos nos devemos preocupar com os outros pois não estamos sós no mundo», disse.
O concerto de apresentação da sua digressão mundial, que a levará aos palcos de Nova Iorque e Los Angeles, mas também a Espanha e Brasil, entre outros países, acontecerá dia 21 em Santarém, na Monumental Celestino Graça.
«Terra» foi gravado na Casa Limón e é editado pela EMI Music.

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