10 de agosto de 2015
A fábrica da inveja
A lei moral de que o justo é tirar de cada um de acordo com sua habilidade e dar para cada um de acordo com sua necessidade corrompeu milhões de corações ao longo da história, e ainda o faz. No entanto, nada poderia ser mais imoral, injusto e ineficaz que este conceito. A escritora Ayn Rand fez um dos melhores retratos das consequências desta máxima colocada em prática, no livro A Revolta de Atlas, assim como expôs com perfeição as reais motivações dos seus defensores.
Uma fábrica de motores decidiu votar um plano onde todos os funcionários iriam trabalhar de acordo com suas habilidades, mas o pagamento seria de acordo com as necessidades. Diziam que o plano obedecia a um nobre ideal de justiça. Era chegada a hora de acabar com a ganância individual, com a procura do lucro, com a competição selvagem. Todos os trabalhadores seriam uma grande família, e o bem colectivo seria colocado à frente dos interesses individuais.
Um ex-operário relata como o plano funcionou. Tenta colocar água num tanque onde há um tubo no fundo drenando o líquido mais rápido do que tu és capaz de enchê-lo, e quanto mais água pões dentro, maior fica o tubo. Quanto mais trabalhas, mais é exigido de ti, até que as tuas horas trabalhadas multiplicam-se para que o teu vizinho tenha a sua refeição diária, a esposa dele tenha a operação necessária, a sua mãe tenha a cadeira de rodas, o tio dele tenha a roupa que necessita, o sobrinho a escola etc. Até pelo bebé que ainda não veio, por todos à sua volta, mais e mais é exigido de ti, sempre em nome da “família”. A cada um pela necessidade, de cada um pela habilidade.
Foi necessário apenas uma reunião para perceberem que todos se haviam transformado em vagabundos pedindo esmolas, pois ninguém poderia reclamar um pagamento justo, não havia direitos e salários, o teu trabalho não te pertencia, mas pertencia à “família”, e nada era devido em troca, sendo o único direito sobre ela a “necessidade”. Cada um tinha que exigir tudo, alegar misérias, pois as tuas misérias, e não o teu trabalho, tinham-se tornado na moeda de troca. Ninguém podia mais nada. Afinal, ninguém era pago pelo trabalho, pelo valor gerado, mas apenas de acordo com a “necessidade”. Em pouco tempo, sendo a necessidade algo subjectivo, todos passam a necessitar tudo, e a “família” experimenta um enorme crescimento de ressentimento mútuo, esquemas e mentiras. A cirurgia da mãe do vizinho passa a ser vista com desconfiança, pois o teu trabalho é que paga a conta. Cada nova exigência através do apelo de “necessidade” gera mais intrigas e conflitos.
Bebés foram o único item de produção em alta, pois ninguém tinha que se preocupar com os custos dos cuidados de um filho, já que a conta recaía sobre a “família”. Além disso, não havia muito o que fazer, pois a diversão era vista como algo totalmente supérfluo, uma das primeiras coisas a ser cortada em nome da “necessidade” de todos. A diversão passa a ser vista quase como um pecado. Um dos meios mais fáceis de se conseguir um aumento no pagamento era justamente pedir uma permissão para ter filhos ou alegar alguma doença grave.
Não há meio mais seguro de destruir um homem que forçá-lo a um mecanismo de incentivo onde o seu objetivo passa a ser não fazer o seu melhor, onde sua luta é por fazer um trabalho mau, dia após dia. Isso irá acabar com ele mais rápido que qualquer droga ou o ócio. A acusação mais temida era a de ser mais habilidoso que o demonstrado, pois a tua habilidade era como uma hipoteca que os outros tinham sobre ti. Mas para que alguém iria querer ser mais habilidoso, se os seus ganhos estavam limitados pela “necessidade”, e suas habilidades significariam apenas mais trabalho pesado para que outros ficassem com os benefícios?
A explicação dos motivos que levaram tal plano a ser aprovado está na passagem em que o ex-operário diz que não havia um único homem votando que não pensasse que sob tais regras poderia avançar sobre os lucros de outros homens mais habilidosos que ele. Não havia alguém rico ou esperto o suficiente que não achasse que alguém seria mais rico ou mais esperto, e que tal plano dar-lhe-ia uma parcela da sua maior fortuna ou cérebro. O trabalhador que gostava da ideia de que a sua “necessidade” dar-lhe-ia o direito a ter o carro que o seu chefe tinha, esquecia que todos os vagabundos do mundo poderiam exigir aquilo que ele tinha conquistado pelo seu trabalho. Este era o verdadeiro motivo para a aprovação deste plano igualitário, mas ninguém gostava de reflectir sobre o assunto, e quanto menos gostavam da ideia, mais alto gritavam sobre o amor pelo bem comum.
A fábrica continuou perdendo os melhores homens, pois os habilidosos “egoístas” fugiam como podiam para lugares onde pudessem trabalhar pelos seus próprios interesses, sem terem o fardo de sustentar os parasitas. Em pouco tempo, não havia mais nada além dos homens “necessitados”, pois não tinha um único homem talentoso. E a fábrica teve que começar a apelar para as suas necessidades tentando não perder todos os seus clientes, pois os seus produtos já não eram competitivos ou eficientes. Mas qual o bem que faz aos passageiros de um avião um motor que falha em pleno vôo? Se o produto for comprado não pelo seu mérito, mas por causa da necessidade dos empregados da fábrica ineficiente, seria isso correto, bom ou a coisa moral a ser feita pelo dono da empresa aérea? Se um cirurgião compra um equipamento não pela sua qualidade, mas pela necessidade dos funcionários do produtor, seria isso correcto com o seu paciente?
No entanto, é esta a lei moral pregada por vários líderes, intelectuais e filósofos do mundo. A cada um pela necessidade, de cada um pela capacidade. A fábrica da inveja, na brilhante novela de Ayn Rand, faliu, transformou-se numa fábrica de miséria, assim como todos os países socialistas que tentaram adoptar a mesma filosofia de vida.