7 de julho de 2015

Carta do Arquitecto Marques Franco sobre a Burocracia em Viana do Castelo

Não posso deixar de expressar o meu mais vivo repudio por um conjunto de factos relatados pelo jovem Carlos Maciel no seu blog, que se lembrou agora de denunciar, com o intuito declarado de combater a burocracia na Câmara municipal.
É uma autêntica sainha persecutória contra um dos pilartes- base da nossa organização municipal e um dos traços indeléveis na identidade nacional. O miúdo podia perfeitamente entreter-se em ir ao cinema ou à praia, vira-se agora para palermice de querer reduzir papeis, documentos, certidões e registos e mais um rol de infindáveis abolições de procedimentos da Câmara Municipal. Vê-se mesmo que é gente que não percebe patavina do que é que o pessoal mais necessita e vai atrás das modernices idiotas sopradas pela net.

Ora, acontece que a burocracia é precisamente uma das coisas boas que o município tem, e que faz com que a malta até goste de andar por cá em vez de desertar para a “estranja”. Metade da actividade do município desenvolve-se a tratar de coisas e documentos inúteis, que dão trabalho a um rol de gente. Se insistirmos nesta idiotice de acabar com a complexidade dos serviços municipais, vamos ter montes de gente no desemprego, com estradas e praças às moscas e um aumento considerável de depressões e suicídios. A história é-nos vendida como uma coisa que se destina a facilitar a vida aos munícipes. Mas quem é que lhe disse que a gente quer a vida facilitada? Quando deixar de ser preciso gastar uma manhã para marcar uma reunião com o presidente, um vereador, para entregar uma escritura, 32 documentos para licenciar uma casa, ou ir para a bicha da tesouraria, como é que o pessoal vai arranjar desculpa para se desenfiar do emprego e aproveitar para laurear a pevide, que é uma coisa essencial ao bem-estar psíquico das pessoas? Isto para não falar da instabilidade provocada pela ausência de motivos para dizer mal da vida e lamentar as chatices e os incomodas na sala de espera da Câmara Municipal, que é o local que os Vianenses elegem para o exercício da democracia já que não vão às Assembleias Municipais.

Mas o mais lamentável disto tudo é que deixamos de poder distinguir os espertos dos lorpas. A burocracia instalada é um mecanismo natural de seleção que levou anos a fio a montar. Os inteligentes e desenrascados sempre conseguiram dar a volta às dificuldades e armadilhas do sistema e são capazes de sacar um papel no próprio dia enquanto os bananas esperam seis meses.

É um filtro natural e um magnífico modelo de avaliação de desempenho que ficaria agora ameaçado. Apesar de tudo, estou confiante que a engrenagem era capaz de suster esta ameaça. No mínimo, espero para acabar com a burocracia na Câmara Municipal seja necessário nomear por ajuste directo meia dúzia de comissões e grupos de trabalho, e criar mais uma centena de formulários, quadros sinópticos e respectivas instruções de preenchimento que, bem geridas poderão assegurar a perpetuação do sistema.

Marques Franco

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