24 de julho de 2015

Urbanismo, Ceaucescu e a Câmara de Viana


Artigo escrito para o Minho Digital de 24 de Julho de 2014

Ceaucescu foi o presidente comunista que governou a Roménia nos anos 80. Profundo liberticida, autoritário e sanguinário, possuía uma enorme paixão pelo urbanismo. Tanto que é recordado pela sua obra "Ceaushima", dito em tom irónico para descrever o desastre urbanista que fez em Bucareste. Aplicou a máxima de Lenine "Destruir o velho e construir o novo" e no final acabou por desfigurar a outrora conhecida Paris do Danúbio.

Depois de um terramoto que assolou a cidade, causando mil mortes, trinta edifícios destruídos e danos em edifícios pré-comunistas, o regime de Ceaucescu achou que este era um sinal da superioridade sobre outras épocas e daí decide demolir igrejas e palácios para construir o centro cívico.


A intenção do ditador era replicar os Campos Elisios na Boémia e para tal contava com 400 urbanistas com os quais reunia diariamente. 

Finalmente em 1984 chegou a maior demolição da história: mais de oito quilómetros quadrados foram arrasados e no total foram demolidos 3 mosteiros, 20 igrejas, 3 sinagogas, 2 hospitais, 2 teatro e um estádio construído em art deco. Mais de 40 mil pessoas viram-se afectadas ao ter que mudar de casa de um dia para o outro. Algumas das igrejas tiveram mais sorte e foram trasladadas para outras localizações.


O Palacio do Povo, a jóia da coroa do Centro Cívico é edificio monumental, o segundo maior do mundo depois do  Pentágono. Mede 270 por 250 metros86 de altura e 92 metros abaixo do solo, num total de 330,000 metros quadrados. Conta com mais de 1000 salas, uns sótãos imensos que até contam com um bunker nuclear. Muitas das salas estão decoradas sumptuosamente em mármore e ouro.

A estrutura do edifício estava quase terminada quando o regime caiu. Os romenos queriam demoli-lo por lhes fazer lembrar a esbanjamento de recursos enquanto milhões passavam fome. Os planos não seguiram adiante e hoje alberga o parlamento romeno e alguns departamentos governamentais.

De certo que já denotaram algumas semelhanças com a Câmara de Viana do Castelo embora a menor escala. Desde a equipa de arquitectos que se atropelam na câmara (Ceaucescu não contratava fora) até ao gosto megalômano. 



Outra coisa em comum é o facto destes edifícios nas fotos da época comunista estarem vazios ou fechados para usufruto do Politburo. A demolição também é outro paralelo entre o executivo PS e o regime de Ceaucescu, desde os armazéns do remo até ao prédio Coutinho.

O gosto duvidoso dos edifícios é outro ponto em comum. Não sei se Ceaucescu escolhia as caixilharias ou as marquises, não há nota histórica, mas sei que a Câmara gosta de escolher pelo proprietário, que se quiser vidros duplos num edifício do centro histórico, esbarra contra as burocracias camarárias.

Como dizia Confucio "Mais vale ser cão em tempos de paz, que Homem em tempos de caos." Isto é válido para os vianenses que tiveram que escolher trabalhar noutras paragens, já que a Câmara decidiu gastar dinheiro em urbanismo em vez de fomentar o comércio.

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