2 de março de 2015

A culpa é do neoliberalismo

É com pena que vejo que em 2015, a palavra neoliberalismo tenha sido ligada a algo que não tem nada a ver com a defesa das liberdades individuais, como a própria palavra "liberal" indica. Em Portugal, neoliberalismo tem sido confundido com neoconservadorismo, uma vez que ainda que haja alguns liberais nos "quadros" do PSD e do CDS, são uma minoria quase insignificante.

Liberalismo não é intervencionismo, nem subida de impostos, nem taxa de sacos de plástico, nem encerramento do Pirate Bay e nem lei da cópia privada. Liberalismo. Já que a palavra neoliberal não representa nenhuma escola de liberais ou libertários, defende a redução de impostos e de leis que permitam que os indivíduos invistam o dinheiro ganho com o seu trabalho e pago em impostos naquilo que eles bem entenderem.


O liberalismo raramente é mencionado por este nome, porque é comum que o termo neoliberalismo seja usado como o grande bode expiatório para os males da humanidade. No entanto, a definição do neoliberalismo tem geralmente apenas duas possibilidades: ou qualquer palermice ou o liberalismo de sempre, e sendo assim o prefixo "neo" é dispensável.

A origem da palavra neoliberalismo provém dos anos 30, embora nos anos 90 o seu uso massificou-se. No entanto a origem pouco importa, o que importa é a retórica anti-liberal, que com maestria, conseguiu que em inglês liberal significasse socialista. Por cá, para os nossos socialistas o liberalismo dos liberais é um falacioso conservadorismo, e o liberalismo genuíno é considerado socialismo. Armadilhas retóricas criadas pelos próprios liberais.

Muito se deve a uma experiência falhada de uns alemães que durante os anos 40 do século XIX tentaram tirar o melhor dos dois mundos. Queriam harmonizar a relação entre a liberdade e a coacção. Implementaram uma economia de mercado, onde o Estado seria o garante das liberdades individuais e da justiça social (igualdade) através da intervenção. Foi um fracasso rotundo como o está a ser nos dias que correm, onde esta história é repetida vezes sem conta. Estes liberais alemães acharam que o liberalismo clássico era demasiado radical e que as empresas estavam a ganhar mais poder que o Estado e que este não podia ser eliminado, portanto a sua função era garantir que essas empresas tinham concorrência. Foi a chamada política de "economia social de mercado", que apesar de ser anti-socialista também foi anti-capitalista e reflectiu de novo como está a ser reflectido nos dias de hoje, a fantasia que que é o equilíbrio entre o Estado e o mercado, entre comunidade e indivíduo, entre a razão e vontade, entre igualdade social e liberalismo, ou seja, o equilíbrio enganoso entre coerção e liberdade que ilude o facto de que o Estado é o monopólio da violência legalizada. O Estado não pode ser tratado como fazendo parte de uma qualquer transacção. Este chamado neoliberalismo alemão não soube responder a essa equação, desapareceu e tornou-se no credo da socialdemocracia que continua a tentar encontrar (sem sucesso) o equilíbrio entre o Estado e Mercado.

No entanto tudo mudou, quando em 1989, um colapso político abanou muitos intelectuais que defenderam o comunismo ou que evangelizavam os seus benefícios. A queda do muro de Berlim foi recebido como o fim dum dos sistemas mais repressivos que a humanidade já viu e que foi responsável pela morte de 100 milhões de pessoas. O comunismo nunca contou com o apoio popular e por isso tiveram que tomar o poder à força e impor ditaduras sanguinárias. Persuadiram escritores e artistas que os apoiaram sem reservas e com grande entusiasmo, para depois desaparecerem entre "os pingos da chuva" quando caiu a União Soviética.

Isso explica porque é que o colapso do comunismo nunca foi recebido como teria que ser: com alegria. Ao contrário criou-se a suspeita de que a hegemonia do capitalismo e consequentente neoliberalismo americano iria dar às multinacionais o poder que faria aumentar a pobreza e a desigualdade; o desrespeito ecológico e instauraria o pensamento único. Isto no entanto não eram receitas futuras mas sim os ingredientes fundamentais do comunismo, cujos partidários tentaram ocultar e colar à imagem do capitalismo.

Esta operação de propaganda, suportada como sempre pelo mundo da cultura, era uma mentira tão grande que não pode ser suportada durante muito tempo. Daí a alegria que muitos intelectuais sentiram com a crise, puderam por fim ao ressentimento que guardavam desde o fim do comunismo e culpar o neoliberalismo pelos males do mundo, tudo para justificar mais intervencionismo estatal. A crise económica parecia dar razão à aqueles que agoiravam desde 1989 as infinitas desgraças que aconteceram. O neoliberalismo era culpado de tudo.





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