28 de março de 2015

A minoria é melhor que a maioria


O termo aristocracia vem do grego e a grosso modo significa o governo dos virtuosos. Em grego antigo arete (força ou virtude) e cratos (governo). Se entendermos a palavra arete no seu sentido mais pleno, significa aquele que tem força interior, aquele que possui carácter.

Aristocratas são aqueles que se destacam entre os demais em determinada cidade ou grupo. É claro que o termo também foi utilizado para se referir a regentes, dinastias ou qualquer um que tivesse poder, fosse ele económico ou político. A filosofia desde cedo criticou esse uso, apesar de também reconhecer que a linhagem de nascimento, assim como a herança patrimonial, muitas vezes pode predispor alguém para ter mais virtudes pela “sorte” de ter nascido bem. Claro que se pode nascer pobre e melhorar, o nascimento não é um destino imutável, mas é muito mais fácil ter sucesso na vida se tiveres sorte com a família e a classe social em que nasceste.

Tanto Platão como Aristoteles já discutiam a questão dos melhores. Platão dizia no seu livro “República” que a escola devia preparar e seleccionar os melhores para governar a cidade. Já Aristoteles em "Ética a Nicomano" fala na "grande alma" como o homem mais capaz e virtuoso através do qual todos se alimentam. O que fica claro em ambos é que os mais capazes levam o mundo ás costas e a escola deve ser responsável por identificar os melhores e prepara-los naquilo em que são talentosos.

A função da educação é identificar nos alunos as suas capacidades e coloca-las ao serviço da sociedade. Nenhum professor concordará que os alunos são todos iguais e que possuem as mesmas capacidades. Um dos maiores disparates da educação moderna é achar que os alunos têm todos as mesmas capacidades em absorver conhecimentos.A chamada ética das virtudes de Aristoteles diz que a virtude é como um instrumento musical, só através da pratica é que se alcança a maestria. Este tipo de ética ganhou bastantes inimigos depois do século XVIII, embora hoje em dia haja quem a tente recuperar. O mundo embarcou numa filosofia politicamente correcta e num delírio colectivista, que se deve basicamente à incapacidade de admitir que nem todos nascem com um caracter forte. Que a maioria sucumbe à covardia e à fraqueza. Rosseau e Marx são os grandes responsáveis por essa teoria revolucionária que encontra um álibi no capitalismo para culpar os males da humanidade. Se o mundo é mau, é apenas por este reflectir o carácter humano que por muito que nos custe segue as leis da natureza.

Para os seguidores do colectivismo tudo é desculpável, se um indivíduo não alcançou o sucesso foi porque era gay, preto, pobre, emigrante etc. Ou seja a culpa é das circunstâncias e não da responsabilidade individual. São vítimas da sociedade contemporânea. Não se trata de ignorar o sofrimento e o ostracismo que estes grupos sofrem, mas não podemos dizer que os aristocratas se aproveitam deles.

O aristocrata tende a sofrer bastante mais, normalmente é um ser solitário, objecto de inveja e ódio, entende coisas que a maioria não entende e os outros tendem a aproveitar-se mais dele que o contrário. É a "grande alma" a que se referia Aristoteles.

Durante o renascimento, Maquiavel, volta a referir a virtude. Segundo o filósofo de Florença, só alguns homens possuem "virtu", enquanto a maioria não.

A "virtu" é uma qualidade que alguns homens têm para enfrentar os problemas e acasos que o quotidiano lhes coloca. Maquiavel refere-se ao político, mas podemos ampliar o conceito ao comportamento humano. A maioria é banal e apenas alguns homens possuem a capacidade de ver e chegar mais além. Outro termo que possui bastante importância no "Príncipe" de Maquiavel é a "fortuna" ou seja, o acaso. Para muitos filósofos o acaso domina a realidade, não existe uma providência divina que gere os eventos do mundo.

O virtuoso enfrenta a fortuna através da observação, do estudo, da ousadia e da coragem. Maquiavel diz que a fortuna deve ser encarada como uma mulher e portanto exige coragem e impetuosidade no trato, não medo, timidez e covardia. A "virtu" está sempre ligada à fortuna e os homens que a possuem tem mais sucesso que a maioria. Para o filósofo de Florença, a natureza humana, talvez devido ao pavor diante dos efeitos avassaladores da fortuna, é sempre fraca, mentirosa, volúvel, infiel, interesseira. Em poucas palavras, sofre de agonia por precariedade. Para o homem comum não existe, aparentemente, forma de enfrentar a fortuna. No entanto, o bom príncipe é capaz de mostrar ao homem comum o que de melhor existe nele, pode-lhe oferecer uma vida menos condicionada pela fortuna. Maquiavel dizia que a aristocracia era capaz de dar ao homem comum uma vida menos terrível.

Uma filosofa russa, exilada nos Estados Unidos durante o século XX escreveu uma das distopias mais famosas a par de "1984" de George Orwell e o "Admirável Mundo Novo" de Adolf Huxley. Ayn Rand na "Revolta de Atlas" descreve uma sociedade dominada pelo pensamento colectivista, socialista e por isso mesmo preguiçosa. O romance escrito durante os anos 60, parece uma profecia dos tempos que correm. Uma sociedade que procura a igualdade e o bem comum, acaba na miséria e na improdutividade porque não existe incentivo para a virtude.

Rand acerta em cheio quando mostra um mundo que apenas fala no “bem comum” e na “igualdade entre as pessoas” contra as diferenças naturais de virtudes entre elas, sempre a serviço do mau carácter, da preguiça e da nulidade. Ao procurar destruir as “injustiças sociais”, a sociedade descrita por Rand destrói a produtividade, fonte de toda a vida, paralisando o mundo.

Ayn Rand é conhecida pela sua objectividade na ética. Uma pessoa corajosa, empreendedora e trabalhadora consegue ser mais produtiva para a sociedade. A coragem produz ganhos materiais para toda a gente. Preguiça e covardia produzem miséria, mesquinhez e mentira. Força e coragem fazem as pessoas serem verdadeiras nas suas relações, enquanto a ausência de virtudes torna-as mentirosas e traiçoeiras.

Atlas, representa neste caso todos aqueles homens e mulheres que carregaram a humanidade às costas e que nos últimos anos passaram a ser crítica da esquerda rosseauniana e marxista. Rand defende que a maior parte da humanidade sempre viveu às custas da minoria mais capaz e inteligente. Antes que digam que sou fascista, por citar Ayn Rand, apenas reconheço o óbvio: não existe nada que se aproveite das massas a nível intelectual. Não é uma guerra de classes ou de credos, as melhores coisas da humanidade foram criadas por desafiar o pensamento em manada. A maior virtude de Rand, foi ter percebido a meados do século XX, que o mundo se preparava para menosprezar e sacrificar a minoria aristocrática em nome da justiça social. Se ela tivesse conhecido os líderes do mundo do século XXI, de certeza que teria náuseas.

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