4 de janeiro de 2015

Ouvir música é uma perda de tempo?

É indiscutível que a música faz as pessoas serem mais felizes. Mas será que tudo o que nos faz felizes é benéfico?


"A heroína levou-me para sitios que sempre imaginei. Não posso descrever o sitio, mas era um lugar onde não tinha medo, onde me sentia imperturbável, não havia anjos nem demónios e era tão leve que podia flutuar"

Scott Weiland

Será que o que Scott Weiland se refere é a felicidade? Para mim isso é dar um passo em frente para dar 10 atrás. O que nós queremos é felicidade de qualidade e no mundo actual será difícil encontrar isso sem a música.

Um estudo da Audio Technica UK, demonstrou que cada um de nós ouve 4 horas de música por dia, o que acaba por equivaler a 13 anos de música durante a vida média de um humano. É um investimento bastante grande a nível de tempo e energia.
Alguns cientistas como o professor Steven Pinker dizem que ouvir música é uma enorme perda de tempo:
"A nível de causa e efeito no que á biologia diz respeito, a música não tem qualquer utilidade. A música acaba por ser um cocktail de drogas recreativas que "ingerimos" através do ouvido e que estimula um sem fim de circuitos nervosos ao mesmo tempo. A música poderia desaparecer e a nossa espécie não veria o seu estilo de vida alterado."

É um pensamento bastante polémico e acredito que muitos dos amantes de música estariam prontos a refutar a tese do Sr. Steven Pinker, como é o caso de Daniel Levitin, que afirma que a música serve propósitos mais elevados.

Levitin afirma que a música é essencial para a forma como pensamos. Por exemplo, os bebés não pensam da mesma forma que os adultos fazem. É o chamado pensamento sinestésico, ou seja que não conseguem diferenciar os sentidos. Uma criança de 1 ano pode experimentar o sabor do leite como se fosse um Mi Sustenido. Dificil de acreditar, mas verdade.

O que sabemos é que a música está ligada tanto á linguagem (como percursora dela) e ainda mais importante á memória. Gostamos de músicas com as quais crescemos porque nos torna nostálgicos.

Pessoas que cresceram "rodeadas" das influências da música ocidental criam um mapa musical mental que as faz pensar que a música oriental é estranha. E vice versa.
O nosso cérebro faz uma filtragem dos sons que ouve ao longo do tempo e a mudança pode ser literalmente vista através de ecografia.

Existe uma percepção sonora na música e isso é algo que hoje é totalmente manipulável pelos engenheiros de som. Pensem na música pop da Shakira, Beyoncé ou Rihana. Todas elas utilizam padrões sonoros que o nosso cérebro quer ouvir.
Nós gostamos de música que podemos adivinhar o que vem a seguir. No entanto, não gostamos que seja demasiado previsível. 
Como em tudo na vida gostamos da relação entre a complexidade que nos surpreende e a simplicidade que nos faz sentir seguros. Gostamos de ritmos e tempos que nos surpreendem.

A música serve um propósito que é a de nos ensinar a mexer. Por alguma coisa os ginásios utilizam música nas suas aulas. Os nossos antepassados utilizavam o ritmo para aprenderem a se movimentarem, para lançar armas para caçar e para dançar. Através da dança, os homens mostravam como eram coordenados e saudáveis para impressionar as mulheres solteiras.
O encanto que as mulheres têm pelas estrelas da música não é algo novo, acontece há milénios e é algo ancestral. O cérebro das mulheres sente-se atraído pela criatividade e pelo talento musical.

Será que a música nos torna mais inteligentes? É uma questão polémica, mas com toda a certeza sabemos que estimula o nosso cérebro. Doentes com Alzheimer que não se conseguem lembrar de nada, recordam-se de músicas que ouviram durante a juventude.

O nosso cérebro está continuamente a construir versões da realidade para a nossa sobrevivência. Sons e música é uma das muitas formas que o cérebro utiliza para construir essas realidades.

A música como toda a arte é intangível. O que é intangível aumenta a nossa felicidade. No entanto não é essencial para a felicidade como são a saúde, amor e dinheiro.
A música pode ser bastante positiva, no entanto também pode ter efeitos bastante negativos. A música é uma faca de dois gumes.

Pode-se fazer uma comparação á celebre frase de Karl Marx "A religião é ópio do povo". Marx estava errado quando dizia que a religião era inútil. Mas estava certo quando dizia que a religião pode distrair as pessoas do verdadeiro sentido da vida que é adaptar, prosperar, sobreviver, melhorar…
A música funciona da mesma forma, se não temos cuidado e lhe damos mais tempo, energia e atenção do que realmente merece, pode correr mal.

A vida é acerca da oportunidade de custo e enquanto ouvimos música podíamos estar a aprender uma língua nova ou uma tarefa nova que nos pode ser útil. A música hoje é basicamente entretenimento e é como tal que deve ser tratada. Por isso não deixes que a música te distraia do essencial.

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