21 de fevereiro de 2015
A Democracia ama os Mediocres
A democracia é um regime que convive lado a lado com dois valores essenciais: igualdade e a liberdade. Esse convívio não é fácil. Entre os dois, habita o que eu chamo de sensibilidade democrática, um conjunto de características que vão além do mero debate acerca das instituições democráticas, como poderes públicos, partidos, eleições, etc.
A democracia é o regime político menos maus e até ao que sabe, os especialistas dizem que precisamos de nos organizar em grupos, mas daí até fazer concessões ao grupo em troco de segurança vai um caminho grande. Claro que é preciso organização, mas deverá o grupo decidir o que é o melhor para o indivíduo? O que a democracia não pode ser é o "regime dos direitos", isto porque os direitos são inseparáveis dos deveres. Talvez seja por isso que hoje até os frangos ou as ovelhas têm direitos, porque é feita a separação seja por ignorância ou por marketing político.
Mas, independentemente de a democracia ser nossa melhor opção, não é perfeita, claro. Como dizia Tocqueville, a democracia tem impactos específicos nos humores, temperamentos, hábitos e costumes. A sensibilidade democrática é parte desses impactos.
Uma coisa que salta logo à vista é o facto de quando alguém critica a democracia é logo chamado de fascista, nazi, antidemocrático. A democracia é muito sensível, qualquer coisa e ela "grita" logo. Não me deixo enganar, esse "grito" mais não é do que a vocação tirânica da democracia ser o regime do povo. O “povo” é sempre opressor, Rousseau e Marx são dois mentirosos. Mesmo na Bíblia, quando os profetas de Israel criticavam os poderosos, também criticavam o “povo”, que nunca foi herói de nada.
Já Tocqueville dizia que só existem dois tipos de tiranias: a da maioria e a do dinheiro. Por isso é que existem instituições como os media, os tribunais, as escolas e universidades para contra balançar esse poder e tentar reduzir o poder do povo. Porque o povo é sempre opressor, age em manada e quando aparece politicamente é para destruir. A história demonstra que o povo adere facilmente a regimes totalitários. Se forem oferecidos casa, comida e hospitais, o povo faz qualquer coisa que lhe for pedido. Confiar no povo como regulador da democracia é confiar nos bons modos de um cão à mesa. Só os mentirosos e os ignorantes têm orgasmos políticos com o “povo”.
Voltando a Tocqueville e à luta entre liberdade e igualdade, não há como evitar esta tensão porque ambas são valores de raiz da democracia. Quando mais espaço há para a liberdade, a tendência é de que a democracia acentue as diferenças entre as pessoas e os grupos que nela vivem. Mas a liberdade é a chave da capacidade criativa e empreendedora do homem. Quando se acentua a igualdade, a democracia ganha em nivelamento, mas perde em criatividade e em abundância.
O politicamente correto é um caso clássico de censura à liberdade de pensamento, é por isso que baixo a sua influência o pensamento público fica mais pobre, repetitivo, medíocre e covarde. Quando se acentua a igualdade na democracia, amplia-se a mediocridade, porque os covardes temem a liberdade. Por exemplo, os regimes marxistas, assim como os fascistas de direita (os marxistas são os fascistas de esquerda), reduziram o pensamento e a vida das pessoas ao nível de uma colónia de formigas.
Outro problema da democracia, é como dizia Tocqueville é a sua vocação tagarela. As pessoas são estimuladas a ter opinião sobre tudo e todos e daí surgem pensamentos como a que os homens são todos iguais (só deviam sê-lo nos tribunais) o que leva os mais idiotas a terem pensamentos sobre tudo. O resultado é que, se põe em causa a capacidade igual entre os homens de ter opiniões, a sensibilidade democrática grita de agonia. Mesmo gente com diplomas em engenharia acham-se capazes de ter opiniões profundas sobre o mundo, revelando que a Universidade ao se tornar num fenómeno de massas, "apenas cria pensamentos banais com ares cultos". Quando alguém não sabe, pergunta ao vizinho e regra geral a maioria está sempre certa. A democracia dá sempre a vitória aos idiotas porque são a massa. E hoje o conhecimento foi substituído pela opinião pública.